Menino 1a3 meses status epilepticus 07.05.2021. Laudo e Comentários. Aberto a todos.


Pessoal Vejam que interessante o traçado e a dúvida da Dra Beatriz:

https://drive.google.com/file/d/163qS8YI7q2ulyvCePmgwwizKc9ZPQcvc/view?usp=sharing,

https://drive.google.com/file/d/1oi3TrQj59LNpsM2_fWuwBDMVDZ120y8O/view?usp=sharing

Obrigada mais uma vez professor.

Achei esse exame bem difícil. Não consegui observar esses focos P4 e O2 de forma independente primeiramente. Estava considerando uma atividade focal contínua em todo lado direito.

Me ajudou bastante.

Att,

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Oi Beatriz

basicamente porque os focos não formaram  um "ritmo", neste paciente são frequentes, mas note que são isoladas

para fazer um ritmo (não uma onda) epiléptica necessitamos de no mínimo "3 " focos  "grudados"

neste paciente  a atividade é frequente mas cada foco aparece independente, diferente do momento em que teve

a crise eletrográfica

por isso no  traçado periódico é difícil (não é o caso deste paciente) também é difícil distinguir se é status ou não.

sugiro ler:

https://n.neurology.org/content/neurology/94/20/e2139.full.pdf

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5827541/

abç

Pkanda

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Beatriz

Em sex., 7 de mai. de 2021 às 19:07, Paulo Kanda <pkanda@alumni.usp.br> escreveu:

Boa noite professor,

 

Estou precisando de ajuda com este EEG. Uma criança de 1 ano e 3 meses. Tem crises desde 19 dias de vida. Mãe refere espasmos. Está em uso de frisium, fenobarbital, hidantal e topiramato. Neste momento encontra-se internado devido a prostação e dificuldade para despertar há 2 dias durante o tratamento com dieta cetogênica que se iniciou há 40 dias.

Durante o exame apresentou abertura ocular e balbuciou, porém com pouca interação.

 

No exame observei atividade focal constante em região têmporo parietal direita principalmente.  Com 43 minutos

há relato de crise pela técnica. Observei lentificação do traçado. Posso considerar estado de mal por este exame?

 

História clínica:

Estou precisando de ajuda com este EEG. Uma criança de 1 ano e 3 meses. Tem crises desde 19 dias de vida. Mãe refere espasmos. Está em uso de frisium, fenobarbital, hidantal e topiramato. Neste momento encontra-se internado devido a prostação e dificuldade para despertar há 2 dias durante o tratamento com dieta cetogênica que se iniciou há 40 dias.

LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO LAUDO

Durante o exame apresentou abertura ocular e balbuciou, porém com pouca interação.

Exame realizado em condições técnicas satisfatórias em sono. Atividade elétrica cerebral de fundo é lentificada e assimétricacom ritmos mais lentos em região centro-temporo-parieto-occipital esquerda (embora a região posterior direita também esteja lenta). Se pode observar atividade de baixa amplitude na faixa de 13-16 Hz de projeção para região temporal média e central bilateral mas independente D/E, deixa dúvida se artefatual.  Embora o traçado esteja lentificado podemos ver ondas agudas de vértex e esboços de fusos do sono  eventualmente.

Por volta de 48 minutos de exame a atividade elétrica de hemisfério cerebral esquerdo inicia atividade delta de alta amplitude, que a de partir 48:26 minutos começa a ser acompanhada no hemisfério direito por surto de atividade ponta-onda lenta (crise eletrográfica) por volta de 49 minutos todo o traçado passa a ficar lentificado por ritmos delta bilaterais de alta ammplitude.Esta atividade lenta continua a ser entremeada por surtos ponta onda lenta sempre à direita. Aos 50:28 minutos ocorre atenuação da atividade elétrica em hemisfério direito.

Foco de atividade epiléptica muito frequente de projeção para Pz-P4,  outro foco independente (devido à assincronia com o foco  de Pz-P4) projetado para Oz-O2. Mais raramente aparece foco independente com projeção para C4.

Conclusão: EEG anormal devido a :

Lentificação difusa por atividade delta contínua bilateral, de maior amplitude à esquerda. É possivel que o surto de atividade lenta e de maior amplitude que durou alguns segundos também seja parte de uma crise epiléptica crise.

Raros grafoelementos normais próprios do sono.

Descargas múltiplas e independentes, mas, não muitifocais pois ocorrem sempre no hemisfério direito. Não ficou caracterizado traçado periódico.

Crise epiléptica eletrografica

Correlação eletroclínica: Este traçado em uma criança que não recupera a consciência entre as crises caracteriza status epilépticus (SE). Este diagnóstico é pensado não por causa das descargas contínuas em regiões posteriores do hemisfério direito, mas, devido ao estado de estupor/coma em que se encontra a criança associado a traçado muito lento com episódio de crise eletrográfica.

Correlação eletroclínica a seguir:

Uma das classificações clínicas divide as alterações do nível de consciência em sonolência, confusão (clouding of consciousness), letargia, obnubilação, estupor e coma. As principais diferenças entre esses variados estados neurológicos são: O paciente sonolento ou confuso responde a estímulos verbais ou ao toque leve.  O paciente letárgico ou obnubilado responde a estímulos mais vigorosos.  O paciente em estupor apresenta redução da vigília, com retirada somente a estímulos vigorosos e/ou dolorosos.  O paciente em coma está em um estado de ausência de responsividade total ou quase total, em que os olhos se encontram fechados, não obedecendo a comandos, não apresentando abertura ocular mesmo a dor e sem movimentos espontâneos. Deve durar mais de uma hora para ser diferenciado de síncope e de concussão cerebral1. Parece ser o caso deste paciente. Os diferentes tipos eletroclínicos de estado de mal epiléptico (SE) compartilham características do EEG, incluindo atividade rítmica, descargas epileptiformes e, frequentemente, evolução em crescendo e decrescente.  Quando o traçado é periódico fica mais difícil de determinar se está ocorrendo crise eletrográfica, mas, este traçado não é periódico. No diagnóstico de SE, a correlação clínica e a resposta aos medicamentos antiepilépticos parenterais (AEDs) são de particular importância2. Por isso, é importante que medicação anti epiléptica seja aplicada durante monitorização eletroencefalográfica. Neste caso a normalização do traçado ou pelo menos desaparecimento das descargas indica diagnóstico de status epiléptico.

 

  1. Spector RH, Walker H, Hall W. Clinical methods: the history, physical, and laboratory examinations. Walker HK, Hall WD, Hurst JW, editors, 1990.
  2. Kaplan PWJJocn. The EEG of status epilepticus. 2006;23:221-229.

 

FIM DO LAUDOFIM DO LAUDOFIM DO LAUDOFIM DO LAUDOFIM DO LAUDOFIM DO LAUDOFIM DO LAUDO

 

 

Em 06/05/2021 21:19, Beatriz  escreveu:

Boa noite professor,

Estou precisando de ajuda com este EEG. Uma criança de 1 ano e 3 meses. Tem crises desde 19 dias de vida. Mãe refere espasmos. Está em uso de frisium, fenobarbital, hidantal e topiramato. Neste momento encontra-se internado devido a prostação e dificuldade para despertar há 2 dias durante o tratamento com dieta cetogênica que se iniciou há 40 dias.

Durante o exame apresentou abertura ocular e balbuciou, porém com pouca interação.

No exame observei atividade focal constante em região têmporo parietal direita principalmente.  Com 43 minutos

há relato de crise pela técnica. Observei lentificação do traçado. Posso considerar estado de mal por este exame?