Criança 3 anos cefaleia foco F4-C4-F3 sem crise. Como laudar. Fonte: Dr Luis Moroni. 25.05.2021


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MODELO DE LAUDO
Paciente:
Nome: HeloisaYdSR 3 anos cefaleia Dr Luiz Moroni
25.5.2021
Nascimento: -
Gênero: Desconhecido
Idade: -
Acquisition settings:
Device:
Sampling rate:
Montage:
High pass filter: 0,0 Hz
Low pass filter: 0,0 Hz
Notch filter: Desliga
Examination duration: 00:10:05
Examination date: segunda-feira, 24 de maio de 2021
24/05/2021
História: antecedente de cefaleia.

ELETRENCEFALOGRAMA DIGITAL
Exame realizado em condições técnicas satisfatórias em sono espontâneo N-REM. A
atividade elétrica de fundo é regular e apresenta os grafoelementos próprios deste estado.
Observamos ondas agudas projetadas para F4-C4 e F3, independentes, porém esporádicas..
A abertura e fechamento ocular nada acrescentaram. A hiperpnéia não foi realizada. A
Fotoestimulação não foi realizadada.
Conclusão: EEG mostra atividade de fundo normal em sono. Ondas agudas, raras, isoladas
fronto-centrais independentes e bilaterais.
Correlação eletro-clínica: estas ondas agudas não se relacionam a quadro de cefaléia, podem
se correlacionar com epilepsia caso a criança apresente história de epilepsia(não é este o caso
e podem ser vistas em até 4% de crianças normais (parece ser esta a situação). Comentários
adicionais nas páginas seguintes.
Paulo Afonso Medeiros Kanda crm 54378- sp

Prezado(a) Dr(a).

Comentários gerais adicionais

O EEG pode ser sensível em condições tais como: a síndrome de susceptibilidade benigna a crises na infância e muitas
vezes normal em condições como epilepsias frontal e do lobo temporal. Raramente, até mesmo eventos ictais podem
não ser detectados no EEG de escalpo (algumas crises frontais são exemplo típico disto). Principalmente os pacientes
com epilepsias focais podem ter vários EEGs normais e a localização no EEG de escalpo nem sempre é concordante
com o EEG intracraniano ictal. Mais de 40% dos epilépticos podem ter um EEG inter-ictal normal. Esta porcentagem cai
para 8% com a repetição dos EEG e procedimentos de ativação. O sono especialmente aumenta a chance de
aparecimento de descargas1.

Outras fontes relatam que cerca de 50% dos pacientes com epilepsia mostram descargas epilépticas interictais (DEI) no
primeiro EEG. Rendimento pode ser aumentado através da repetição do EEG de rotina (até quatro exames) e através da
utilização de estudos do sono. A combinação de vigília e do sono no EEG dá positividade até de 80% em pacientes
com epilepsia2.

Há evidências de que a privação do sono tem um valor diagnóstico adicional, ativando principalmente DEI em
epilepsias generalizadas idiopáticas3.

Pode ocorrer potenciação de descargas epileptiformes até 24 horas após crises parciais e generalizadas, assim fica
sugerido, quando possível, a solicitação dos EEGs dentro das 24 h pós crise. Dentro deste período aumenta-se a
probabilidade de visualização de DEI4.

EEG interictal prolongado aumenta a chance de visualização de DEI em cerca de 20%. Sugere-se quando indicado a
solicitação de EEG prolongado com 2h de captação.

Entretanto, a frequência das crises não é proporcional às descargas paroxísticas 'epileptogênicas' no EEG. EEGs com
muitas descargas 'epileptogênicas' podem ser vistos em pacientes com crises esporádicas ou vice-versa. As anomalias
no EEG podem não refletir a gravidade da doença5.

Mais de 10% das pessoas normais podem ter anormalidades não específicas no EEG e aproximadamente 1% pode ter
'atividade epileptiforme paroxística' sem crises epilépticas6, 7.

A prevalência de anormalidades sem crises é maior em crianças, com 2-4% apresentando descargas epileptogênicas
funcionais (sem crises clínicas)7. Isto é, algumas vezes a criança é normal e apresenta EEG alterado, ou, apresenta
epilepsia e o EEG é normal. Ressaltamos que a repetição dos exames pode aumentar a possibilidade de diagnóstico.

HeloisaYdSR 3 anos cefaleia Dr Luiz Moroni 25.5.2021
25/05/2021

Prezado(a) Dr(a).
(continuação)
Atividade epileptiforme paroxística é frequent em pacientes com distúrbios não-epilépticos. Por exemplo, as crianças
com deficiências visuais congênitas frequentemente têm pontas occipitais e pacientes com enxaqueca têm uma alta
incidência de atividade paroxística por pontas e outras anormalidades7, 8.

Assim, EEG normal não afasta quadro de Epilepsia e EEG anormal pode confirmar o quadro na dependência do quadro
clinico e/ou história.

Hidrato de cloral. O hidrato de cloral tem como metabólito ativo o tricloroetanol, meia vida de aproximadamente de 8
horas (variação de 4 a 9 horas e meia) e tem excreção urinária. A posologia usada para induzir o sono é de
25-81mg/Kg/dose9. Sedação é segura e eficaz em crianças submetidas EEG. Drogas sedativas, tais como
benzodiazepínicos, barbitúricos, sedação profunda e anestesia podem aumentar a quantidade de ritmos rápidos no
EEG e interferir com a interpretação. O hidrato de cloral causa mudança mínima de atividade de fundo do EEG.

Paulo Kanda
neurofisiologista - 25/05/2021

Referências
1. Binnie CD, Prior PF. Electroencephalography. Journal of neurology, neurosurgery, and psychiatry
1994;57:1308-1319.
2. Binnie C. Epilepsy in adults: diagnostic EEG investigation. In: Kimura J, H S, eds. Recent advances in clinical
neurophysiology. Amsterdam: Elsevier, 1996: 217–222.
3. Halasz P, Filakovszky J, Vargha A, Bagdy G. Effect of sleep deprivation on spike-wave discharges in idiopathic
generalised epilepsy: a 4 x 24 h continuous long term EEG monitoring study. Epilepsy research 2002;51:123-132.
4. Smith SJ. EEG in the diagnosis, classification, and management of patients with epilepsy. Journal of neurology,
neurosurgery, and psychiatry 2005;76 Suppl 2:ii2-7.
5. Panayiotopoulos CP. Benign Childhood Partial Seizures and Related Epileptic Syndromes. London: John Libbey
& Company Ltd, 1999.
6. Niedermeyer E, Schomer DL, da Silva FHL. Niedermeyer's Electroencephalography: Basic Principles, Clinical
Applications, and Related Fields: Wolters Kluwer Health/Lippincott Williams & Wilkins, 2011.
7. CP P. The Epilepsies: Seizures, Syndromes and Management. Oxfordshire (UK): Bladon Medical Publishing, 2005.
8. Sand T. Electroencephalography in migraine: a review with focus on quantitative electroencephalography and
the migraine vs. epilepsy relationship. Cephalalgia : an international journal of headache 2003;23 Suppl 1:5-11.
9. CASTRO, C.B.B. et al . Comparação entre o eletrencefalograma de sono natural e o induzido por hidrato de
cloral em relação às alterações paroxísticas e ao ritmo de base: paroxystic changes and baseline rythms. Arq. NeuroPsiquiatr., São Paulo , v. 52, n. 3, p. 326-329, Sept. 1994 .
10. Olson DM1, Sheehan MG, Thompson W, Hall PT, Hahn J. Sedation of children for electroencephalograms.Pediatrics.